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Bem-estar e alimentação animal. Que futuro?


O setor da agropecuária enfrenta, nos dias de hoje, desafios que estão a pôr à prova não só a capacidade de resiliência de todos os trabalhadores do setor, mas também a capacidade de se adaptarem à necessidade (e, talvez, obrigatoriedade) da integração das novas tecnologias no processo de produção.

Face à pandemia que nos tem afetado nos últimos dois anos, fomos observando que, sucessivamente, o setor agrícola foi sofrendo significativos aumentos dos custos de produção, sem que se verificasse um aumento proporcional do valor de venda.

No ramo da agropecuária, nomeadamente na área da produção/venda de ração, foi-se verificando um aumento, muito difícil de prever, do preço das matérias-primas mais utilizadas em Portugal.

Este aumento significativo de um custo de produção muito influente nas explorações pecuárias afetou o modo de produção tradicional que se utilizava no nosso país. Quem optava por modos de produção baseados em engordas mais intensivas e duradouras, viu-se em situações financeiramente desconfortáveis. Os produtores que vendiam os animais ao desmame, optaram por vender cada vez mais cedo, para poderem utilizar apenas as pastagens, sem terem a necessidade de suplementar com concentrado os seus animais.

Porém, numa abordagem mais otimista, e como se costuma dizer, é nas piores catástrofes que normalmente se vislumbram os melhores desenvolvimentos.

Numa altura em que está muito em voga a utilização de termos como Sustentabilidade, Ética ou Bem-estar Animal, damos por nós (setor agrícola) a ter que repensar se todos os conhecimentos que tínhamos, se todas as matérias-primas que habitualmente utilizávamos, não poderão ser substituídas (total ou parcialmente) por outras menos vezes escolhidas, quer por desconhecimento dos seus impactos, quer por discrepância financeira face aos materiais habitualmente selecionados.

Esta nova visão que se mostra ao ramo agropecuário, muito pela subida do preço das matérias-primas mais utilizadas, como o milho, cevada, trigo ou soja, pode questionar se não estaríamos a restringir a possibilidade de considerar outras matérias-primas apenas por ser mais “confortável” utilizar o que se conhece, por se verificar que os resultados vinham satisfazendo as exigências, tanto produtivas como de qualidade do produto. Assim, com a (infeliz) transformação que o mundo sofreu, aliada à imperativa mudança da mentalidade dos produtores, aparece, por exemplo, a utilização de algas marinhas na alimentação animal. Para além da componente nutricional, muitos estudos evidenciam que a sua atuação no sistema digestivo promove a redução significativa da emissão de gases de efeitos de estufa para o ambiente.

Do ponto de vista produtivo (que hoje em dia se percebe que não é inimigo do bem-estar, tornando-se óbvio que um animal só é produtivo se se respeitar as regras basilares do bem-estar), nomeadamente em relação à alimentação animal, torna-se também importante o maior controlo do alimento que o animal ingere, tanto quantitativamente, como qualitativamente. De modo a tornar o animal mais eficiente, mas garantindo, também, que o sistema financeiro da empresa não colapsa, o controlo de cada regime alimentar indicado para cada fase de crescimento/desenvolvimento permite ao produtor evoluir no seu processo e de produção, com todas as vantagens que daí advêm.

As oportunidades de desenvolvimento no mundo agropecuário começam a aparecer a uma velocidade considerável, pelo que se coloca a seguinte questão: estarão os intervenientes deste setor preparados para dar o próximo passo e abraçar o desenvolvimento tecnológico indispensável para este setor?


José Umbelino, mestrado em Engenharia Agronómica no ramo de Agropecuária, Responsável de Produção da Fábrica de Rações da Monte do Pasto.


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