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O ISA e o Futuro


António A. Monteiro

Professor catedrático aposentado do ISA-ULisboa

Ex-presidente da International Society for Horticultural Science

Empresário do ramo da vitivinicultura e da horticultura ornamental

Fui desafiado para escrever um texto sobre o Futuro do ISA. Como não sou futurólogo, limito-me a tratar do presente. É no presente que se constrói o futuro.

Preocupa-me que o ISA não olhe mais para o que se passa fora dos muros da Tapada. Ao sair do portão, no país e no mundo, abundam as oportunidades. Os tempos são de mudança, mas é preciso estar atento e depois cortar com a rotina e sair da zona de conforto. Há que abrir as janelas sem medo das constipações.

O ensino no ISA parou no tempo e não tem acompanhado a rápida alteração do mercado de trabalho. A Sociedade valoriza licenciados com uma sólida formação de base, integrando a componente científica com o fortalecimento das competências transversais, que mantenham a capacidade de aprendizagem e que saibam aplicar o conhecimento para construir soluções no âmbito da sua atividade profissional.

Os pontos críticos para passar do “velho” para o “novo” ensino universitário são sobejamente conhecidos. Só é preciso vontade para fazer a mudança. Atualizar métodos de ensino e de avaliação dos estudantes, e reformular os planos de estudo do ISA tem a vantagem de não exigir recursos financeiros, mas dá trabalho e implica uma profunda alteração de hábitos na comunidade estudantil e docente.

As sete licenciaturas que o ISA oferece, com planos de estudo independentes e um número incomensurável de unidades de crédito, desbaratam recursos docentes e não aproveitam as oportunidades que poderiam advir da sua coexistência no seio de uma mesma escola. Porque não aumentar a transdisciplinaridade entre os planos de estudo das licenciaturas e criar mais sinergias entre elas? Libertaria recursos docentes para aplicar nos 2º e 3º ciclos e conduziria a um perfil de formação de espectro mais alargado. Por exemplo, uma engenharia agronómica com mais ambiente ou uma engenheira alimentar dando mais atenção aos sistemas de produção de alimentos.

Pode melhorar-se a qualificação da oferta formativa do ISA pela integração com o mercado de trabalho, promovendo a realização de trabalhos escolares e estágios curriculares em ambiente empresarial, e pela participação de especialistas no enriquecimento dos programas de unidades curriculares de carácter mais aplicado. Sem esquecer também o reforço das ciências sociais e humanidades, cada vez mais importantes na formação equilibrada de um engenheiro.

Os mestrados continuam a ser herdeiros das velhas licenciaturas de 5 anos, numa altura em que os estudantes já interiorizaram o sistema 3+2. É urgente cortar o cordão umbilical dos mestrados às licenciaturas de onde derivaram, oferecendo cursos com valor próprio, diferenciados e diferenciadores, capazes de atrair também alunos de outras escolas e profissionais que queiram melhorar a sua formação ao longo da vida. A ligação às empresas, e a colaboração de docentes com experiência profissional e de docentes de áreas do saber exteriores ao ISA permitirá melhorar a empregabilidade e diversificar os planos de estudo.

A dimensão do ISA equivale à de um departamento universitário, e.g. do IST ou da FCUL. É uma escola pequena, com relativamente poucos docentes altamente qualificados. Todavia, a atividade de investigação no ISA está dispersa por numerosas áreas, com a consequente atomização da massa crítica. Gostaria de ver equipas de investigação mais bem estruturadas, com boas ligações ao exterior e que obtivessem o merecido reconhecimento nacional e internacional.

As unidades de investigação do ISA poderiam focar a sua atividade de investigação nos grandes desafios do Séc. XXI, concentrando massa crítica nos seus pontos fortes e promovendo sinergias entre grupos de trabalho interdisciplinares. Priorizar as atividades com maior componente externa e identificar parceiros internacionais em áreas específicas para construção e/ou integração em consórcios estratégicos.

Os doutorandos inseridos em programas de doutoramento inovadores e com fortes ligações ao tecido empresarial são um meio interessante de reforçar as equipas de investigação. Todavia, para terem procura, os programas de doutoramento devem preparar para o exercício da profissão ao mais elevado nível de exigência e desempenho. Os doutorandos não podem ser formados executando unicamente um trabalho de investigação pré-determinado. Tem que lhes ser dada oportunidade para realizar trabalho independente e tempo para aprender a pensar e para desenvolver as capacidades que lhes permitam desempenhar tarefas de máxima responsabilidade na Sociedade.

O ISA está a renovar o corpo docente através da contratação de bolseiros de investigação para a carreira docente, o que é uma boa notícia. Esta oportunidade só vale a pena se os novos docentes entenderem os atuais desafios do ensino e forem capazes de dar aulas diferentes daquelas que frequentaram quando estudantes. Começar por lhes pedir que nas aulas utilizem apresentações PowerPoint sem texto é uma provocação interessante.

Há escolas que se instalam à beira-mar para se tornarem mais atrativas. O ISA pode e deve ficar onde está, na Tapada. Este oásis adormecido no centro de Lisboa tem que ter mais vida própria para se tornar uma verdadeira mais valia da nossa escola. O desafio vai ser tornar a Tapada ainda mais apetecível que a Praia de Carcavelos!

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